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Professora, estou pensando em desistir. É melhor mesmo!

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Depois de escrever sobre Como treinei meu cérebro para me tornar fluente em Matemática, volto para um trecho dessa história que omiti até então. O motivo é que, primeiro o texto ficaria muito extenso, e segundo, me sentia mal quando pensava nisso. Agora senti a necessidade de externar. Este texto foi escrito em janeiro de 2015 e ficou em rascunho no blog até hoje.

Depois de escrever sobre Como treinei meu cérebro para me tornar fluente em Matemática, volto para um trecho dessa história que omiti até então. O motivo é que, primeiro o texto ficaria muito extenso, e segundo, me sentia mal quando pensava nisso. Somente agora senti a necessidade de externar. Este texto foi escrito em janeiro de 2015 e ficou em rascunho no blog até hoje.

Somente os professores de escolas de nível Fundamental e Médio, precisam de uma reciclagem constante? Professores universitários também precisam? Isso parece óbvio, mas na prática funciona da mesma forma como em outras classes docentes. O título desta postagem traz uma pergunta que fiz para uma professora universitária e a sua resposta direta, na época em que cursava Matemática.

Nesta postagem você não lerá sobre Matemática ou nenhuma ferramenta para as aulas de Matemática, mas sobre a 'formação' de professores de Matemática.

Por quê estou escrevendo sobre isso depois de tanto tempo? Recentemente fui adicionado em um grupo no Whatsapp¹, que tem o objetivo de reunir a turma dos tempos da faculdade. Cada um relembrava de momentos que passamos juntos e também com professores. São lembranças boas até esta que começo a descrever logo abaixo.

Professora, estou pensando em desistir. É melhor mesmo!

A minha jornada durante o curso de Matemática não foi fácil. Você pode me entender um pouco lendo o artigo no link citado na primeira linha desse post, onde relato meu processo de aprendizagem durante a graduação.

Leu o artigo? Até passar por estes momentos já havia enfrentado outros tantos e que tornaram as coisas muito mais complicadas.

Pensando em desistir [parte 1]

É normal pensarmos em desistir quando passamos por algumas adversidades que nos desanimam. Problemas pessoais fizeram com que me ausentasse de algumas semanas de aula, incluindo a cadeira de Psicologia da Adolescência. Ao retornar às aulas, procuro a professora desta cadeira e durante alguns minutos de conversa, exponho algumas situações que passei, e, já um pouco desanimado, lanço a pergunta despretensiosamente: Professora, estou até pensando em desistir! Resposta: É melhor mesmo!

Pensando em desistir [parte 1]

Obviamente não sou adolescente (e se fosse um?), no entanto, é normal ouvir uma resposta como essa, de uma professora de Psicologia da Adolescência?

Realmente estava pensando em desistir da cadeira, pois havia perdido as primeiras avaliações, e não podia entrar com requerimento para fazê-las. Ai você me pergunta: por quê desistir professor? E aquele texto sobre a conquista da fluência em Matemática? Força de vontade, persistência, etc. É tudo mentira? Claro que não!

Continue lendo e tente me entender.

Geralmente um individuo não é bom em tudo que pretende absorver. Exemplos:
  1. O indivíduo que tem habilidades com a Matemática (eu), tem dificuldade em algumas cadeiras de Humanas;
  2. O que tem habilidades para Direito, Pedagogia, História, Geografia, etc., tem dificuldade em cadeiras de Exatas.

Isso é natural, e é por isso que existe ainda o vestibular vocacionado.

Não estou afirmando que quem tem habilidades com a Matemática, não sabe escrever e ler bem, e que muito menos não gosta de literatura em geral. Não me entenda mal.

O fato é que o exemplo 1 cai perfeitamente em mim. Na época, por depender de transporte público e de condições climáticas, perdi diversas avaliações e corri atrás do prejuízo. E sempre conseguia. Por quê? Porque eram cadeiras como Cálculo, Álgebra Abstrata, Álgebra Linear, Geometria, etc. Cadeiras que adorava estudar e tenho certa facilidade para dominar.

Não posso dizer o mesmo de Psicologia da Adolescência, da Aprendizagem, Didática, e tantas outras. E depois daquele É melhor mesmo!, minha aversão por essas cadeiras aumentaram mais ainda.

Esse relato é pessoal, e não o tenha como caso geral. Mas, infelizmente tenho que citar.

Exceto Língua Portuguesa Instrumental, todas as outras cadeiras foram ministradas por professoras que não dão a mínima para a formação de professores no curso de Licenciatura em Matemática, Física, Química e Biologia.

Nossa, professor! Você está sendo categórico demais. Talvez. Responda a pergunta abaixo:

Sendo um estudante universitário, como você reagiria a abordagem de uma professora que entra em sala de aula, divide a turma em grupos, dá um tema para cada um, planeja e aplica seminários durante todo o semestre como forma de avaliação?

Se você é calouro e a sua única perspectiva é de se formar naquele curso, aguenta calado. Se é uma pessoa mais experiente, com bagagem acadêmica e ainda com uma profissão, pode contestar tranquilamente. Porém, despertará um sentimento não muito nobre desta professora. O resultado será uma lista pregada no mural recheado de notas baixas.

Pensando em desistir [parte 2]

Por mais que fosse um desabafo, e que realmente não era o meu pensamento de desistir, fiquei surpreso com a atitude da professora. Baixei minha cabeça, dei meia volta e naquele semestre nunca mais assisti aulas de Psicologia da Adolescência, que era pré-requisito para Psicologia da Aprendizagem. Resultado: atrasei o curso por conta disso.

Pensando em desistir [parte 2]

Resolvi pagar todos os créditos do curso e deixar estas cadeiras de humanas para o final. Após pagá-las, faltava estas benditas cadeiras de Psicologia, e assim poder concluir o curso.

No primeiro dia de aula para Psicologia da Adolescência, a professora entra em sala de aula e se apresenta: meu nome é incógnita, me graduei na universidade X, fiz especialização na universidade Y, mestrado fora do Brasil na universidade Z e doutorado também fora do Brasil na universidade W. Escrevi este livro, este e este. Vamos começar a aula.

Como já citei, a professora dividiu grupos em alguns temas e pediu que apresentasse seminários. E só! Como eram poucas aulas por semana, as únicas atividades para todo o semestre eram seminários. Ela assistia, criticava, apontava erros, fazia anotações e assim terminava sua aula. Ninguém ousava discordar.

Mais uma pergunta: tanta formação acadêmica para apenas isso?

Meu pavor pela disciplina foi aumentando desde a primeira má experiência. E chegou ao auge quando recebo a notícia que a professora me reprovou juntamente com alguns colegas do mesmo grupo sem motivo aparente.

E foi neste momento que desisti. Não aguentava mais.

Já havia cursado Análise Matemática,  que é considerado o bicho papão do curso de Matemática (só quem estudou sabe), e faltava apenas as Prática de Ensino, estas, com pré-requisitos que eram as psicologias.

Quando saio da sala de aula e passo pelo corredor do Departamento de Matemática, me esbarro com o diretor da faculdade. Com um sorriso estampado ele perguntou se estava tudo bem. Com um semblante abatido, respondo que não. E daí lhe conto da reprovação em Psicologia da Adolescência, e, consequentemente, da minha desistência do curso.

De imediato ele refuta e diz que isso não poderia acontecer, pois estava prestes a terminar o curso e não poderia ser reprovado por conta disso. O diretor entrou em contato com a professora e pediu uma explicação para a reprovação.

Como os argumentos não foram satisfeitos, foi pedido que realizasse um trabalho sobre um tema especificado pela professora. "Desenvolvi" o trabalho e assim encerrei estas disciplinas traumáticas.

Estas 'psicologias' não servem para nada!

Mentira! Servem sim. O problema é como a abordagem dessas cadeiras estão sendo exploradas por professores dos cursos de licenciatura em universidades públicas e/ou privadas.

Estas 'psicologias' não servem para nada!

Com a abordagem que vivenciei, realmente não serve para nada e nunca utilizei em sala de aula. O que faço é aplicar as minhas próprias estratégias e 'psicologias' que de alguma maneira funcionam.

Já tive alunos adolescentes altamente descompromissados e desinteressados com seus estudos. Eu podia fingir que eles não existiam e seguir com as aulas, afinal minhas aulas não eram comprometidas por conta disso. Mas não, conversava com eles fora do horário das aulas e aplicava algumas psicologias que julgava se encaixar. Nem sempre funcionava. Já vi mãe chorando me perguntando o que fiz com o seu filho, pois passou a estudar em casa e na escola.

Sei que a minha função como professor não é essa, mas quando vejo uma oportunidade sinto a necessidade de tentar algo. Ficar parado, criticar e reclamar de tudo não ajuda em nada.

As didáticas e metodologias que aplico em minhas aulas funcionam na maioria das vezes, e quando não funciona tento buscar outras alternativas.

Formação de professores

No artigo 7 razões para você nunca querer ser um professor de Matemática, dentre outros fatores, afirmo que o professor não deve entrar para licenciatura por opção. Isto é, "não tem outro curso mesmo!".

Aos trancos e barrancos consegue se formar. Faz um concurso público e começa a dar aulas de qualquer forma. Julga estar estável em seu emprego, mesmo ganhando pouco. Um professor por opção não tem a mínima preocupação se o seus alunos estão aprendendo ou não. Aliás, qualquer queda de desempenho dos alunos, a culpa é sempre do aluno.

A frase "você é formado?" nunca foi tão ambígua como hoje.

Li diversos textos e artigos sobre a Formação de Professores no Brasil. A maioria destes textos apontam que a maior dificuldade para uma boa formação de professores é a separação que se faz entre a teoria e a prática. Os conteúdos ou a forma como os conteúdos estão sendo ensinados nas universidades não estão em consenso com o que se trabalha em sala de aula. Isso não é óbvio? Claro que é!

O que faz a diferença numa boa formação de professores é que ela seja contínua e acompanhe a prática. As faculdades se dedicam muito a passar teorias, mas acabam se afastando da prática. [Mila Molina, coordenadora de projetos da área de formação de professores da Fundação Lemann]

Muitos estudiosos pregam a instrumentalização dos professores como forma de realizar mudanças através de uma política de reconstrução da fundamentação da prática pedagógica. Já que eles assumem esse papel de avaliadores dos seus alunos, devem ter condições para tanto.

No Brasil tudo é complicado. Minha prática de sala de aula tive que aprender quando comecei dar aula. Pois, na universidade fica-se com a teoria, pois é mais fácil. Como que os professores da graduação e pós-graduação de nossas universidades "são professores para formar professores" se muitos nunca pisaram na sala de aula? Não sabem o que é dar aula para adolescentes e jovens. Nos concursos nem se pede experiência de sala de aula. Conta-se apenas títulos e a prática fica em 2º plano. [Comentário de Angélica em Formação de professor boa é contínua e prática]

Cada vez que leio ou assisto noticiários políticos, mais o meu otimismo em ver a Educação melhorando se desfaz. Mesmo sendo um problema tão complexo, todos tem uma "solução" simples para salvar a Educação no Brasil.

O presidente tem uma solução, a Câmara, o Senado, o prefeito, o governador, o vereador, o reitor, eu, etc. Infelizmente são teorias sem práticas ou lindas teorias que na prática não funcionam, ou ainda teorias tão simples, mas que é descartada por aqueles que nos representam no Congresso Nacional. Afinal, a ideia tem que virar lei.

Todas elas exigem esforço em conjunto, investimento financeiro em estrutura e em professores.
Não adianta reformular os currículos dos cursos de pedagogia ou licenciaturas, se a própria postura e concepção dos professores formadores dentro das universidades não mudar. [Anna Helena Altenfelder, superintendente do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária)]

Assim como se fala sobre o uso de novas metodologias na educação básica, as instituições formadoras devem transformar a sua forma de ensinar.

Há uma pedagogia dentro da universidade que precisa ser refeita e aberta. Há formadores fechados, achando que ainda cabe ensinar dentro do modelo que aprenderam. [Pesquisadora Valeska Maria Fortes de Oliveira, da ANPEd]

Ela destaca que, para criar referências para o futuro professor, é importante usar a homologia dos processos, ou seja, aplicar na sua formação as mesmas práticas pedagógicas que deverão utilizar com seus alunos.

Leia os artigos sobre a Série Formação de Professores em porvir.org.

Acadêmicos avaliam professores em site

Descobri um site no mínimo curioso. Em um ranking e avaliados sob diversos aspectos, acadêmicos de cursos superiores atribuem notas para os seus próprios professores. No final, cada curso, departamento ou universidade tem uma média final.

Para quem faz o seu trabalho de forma correta, é um prazer ter o seu nome no TopProfessors. Já os outros é uma vergonha alheia.

Imagina ter o seu nome assim numa lista assim:

Acadêmicos avaliam professores em site

O site permite o cadastro de universidades, professores ou departamento. O professor que não gostar de ver seu nome no ranking pode pedir a exclusão.

O site é esse

topprofessors.com (fora do ar)


Conclusão

Não pretendo desmerecer o trabalho de nenhum professor, apenas enfatizar que o que se prega nos cursos de licenciatura é o que será pregado em escolas por professores despreparados e descompromissados. O exemplo sempre vem de cima.

É estranho perceber que em faculdades onde formam-se futuros professores, os que estão lá não tem a formação necessária para ser um espelho para os próximos professores.

Desde que terminei o curso em 2007, muita coisa já tem mudado nos cursos de licenciatura. A própria grade curricular mudou, trazendo mais benefícios tanto para quem ensina quanto para os professores em formação.

Sabemos que a mudança da grade não é suficiente. A mudança começa em nós. Se hoje sou professor é porque me espelhei em professores exemplos.


¹ No momento não uso mais.

COMENTÁRIOS

Comentaristas: 4
  1. Excelente presente de aniversário. Muito obrigado!

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  2. Vivendo a mesma realidade na minha formação. Desinteresse dos que deveriam ser exemplos e pouquíssimos exemplos. Teoria distanciada da realidade do cotidiano da vida escolar. Gosta da instrumentação teórica, mas ao entrar em sala da aula, a pratica e verificar o que funciona. Nesta situação, quero dizer que, funciona aquilo que realmente faz o aluno aprender. E neste ponto está o grande desafio! Obrigado pelo artigo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Bento!

      O quadro é este que você bem resumiu.

      Um abraço!

      Excluir



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Prof. Edigley Alexandre - O blog para professores e estudantes de Matemática: Professora, estou pensando em desistir. É melhor mesmo!
Professora, estou pensando em desistir. É melhor mesmo!
Depois de escrever sobre Como treinei meu cérebro para me tornar fluente em Matemática, volto para um trecho dessa história que omiti até então. O motivo é que, primeiro o texto ficaria muito extenso, e segundo, me sentia mal quando pensava nisso. Agora senti a necessidade de externar. Este texto foi escrito em janeiro de 2015 e ficou em rascunho no blog até hoje.
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